Em almoço em Nova York, o Ministro da Economia Paulo Guedes promete queima total de estoque do patrimônio estatal
Do Editorial do Comitê Defend Democracy in Brazil/ NY
10 de Abril de 2019
Causou espanto a declaração do Ministro da Economia, Paulo Guedes, durante almoço com investidores em Nova York. "Nos conhecemos há 30 anos e você tomou uma decisão muito inteligente, voou para fora do Brasil. Você foi muito esperto de morar fora do Brasil", disse Guedes a um empresário brasileiro que vive em Miami há vinte e cinco anos e queria saber o que o governo vai fazer caso não consiga aprovar, no Congresso, a reforma da previdência. No almoço, Guedes elogiou quem achou melhor fazer a vida fora do país. Ainda assim, garantiu à platéia de potenciais compradores do patrimônio brasileiro que tudo vai bem no país.
"A democracia vai bem", disse mais de uma vez, como quem precisa convencer quem está pensando o contrário. E insistiu: "vocês devem observar o que está acontecendo no Brasil como um resultado natural. Não devem ficar chocados ou desesperados, achando que é um fenômeno incompreensível ou que algo muito sério está acontecendo por lá". E “vamos aos negócios”, pois para isso foi marcado o almoço, promovido pela empresa XP Investimentos, que tinha como tema os cem primeiros dias do governo Bolsonaro.
Ministro de destaque no governo de Jair Bolsonaro, Paulo Guedes surpreendeu ao responder uma única pergunta durante almoço com investidores em Nova York, no dia 10. Um antigo conhecido que vive em Miami há vinte e cinco anos perguntou se Guedes tem um plano B caso não consiga aprovar no congresso o projeto da reforma da previdência.
"Estamos vendendo", anunciou Paulo Guedes. "Já vendemos 12 aeroportos, concessões, estamos vendendo tudo!", garantiu. E pelo visto, o governo Bolsonaro tem pressa: "temos que acelerar a privatização. O Brasil ficou dormindo 10 anos", disse Guedes, explicando que o dinheiro da venda das empresas e investimentos brasileiros será usado para pagar a dívida interna. Mas nem tudo... "Nem todo o dinheiro será usado para reduzir a dívida porque quando o Banco do Brasil ou a Petrobrás vendem partes de suas operações, uma porcentagem do dinheiro vai para os investidores privados”.
Guedes garantiu que na surdina, o governo já está implementando a venda dos bens nacionais. "Nossa meta é vender US$ 20 bilhões este ano. Em silêncio, sem fazer barulho, já vendemos US$ 12 bilhões. Mais da metade. Vamos superar nossa meta", afirmou. O ministro também deixou claro que se depender do atual governo, o Brasil em breve não terá mais uma empresa estatal de petróleo. Nas palavras claras de Guedes:
“- A Petrobras tem que focar no seu principal negócio. Explorar petróleo, é isso que vai fazer. O resto vende. Assim se concentra no que tem que fazer, se torna mais eficiente, concentrada, fácil de vender.”
Ele garantiu que a reforma da previdência será aprovada porque os políticos estão encurralados, pressionados pela opinião pública. Mas uma pesquisa CUT/Vox populi, divulgada enquanto o Ministro discursava em Nova York, revela que 65% rejeitam a proposta de reforma apresentada pelo governo. A mesma pesquisa indica que subiu para 70% o índice de brasileiros insatisfeitos com o Brasil de Jair Bolsonaro.
Os eleitores do nordeste ficaram ainda mais insatisfeitos se tivessem ouvido o que o ministro disse a respeito de uma das obras mais importantes dos governos do PT para a região. Segundo Guedes, um dos maiores problemas do Brasil é a concentração de recursos nas mãos da União. Com tanto dinheiro, disse ele, o governo federal faz projetos absurdos. "Constrói pontes prá lua, até muda cursos de rios.. é muito dinheiro pra fazer coisas muito loucas", disse, zombando da importante transposição do rio São Francisco.
Talvez seja algo que ele retifique, como fez com a declaração em 12 de março, de que o ex-Presidente “Lula não roubou um tostão”, e que ontem evadiu em entrevista a um blog de extrema direita.
Guedes disse que hoje é um homem popular. Onde quer que vá, garantiu, os brasileiros querem tirar fotos com o Ministro da Economia. Mas ele preferiu não testar toda essa popularidade em Nova York, onde os ativistas foram expressivos contra os Ministros do governo Temer. Optou por escapar por uma saída lateral e evitar a imprensa que o esperava na porta do salão onde acabara de prometer uma ampla queima de estoque de empresas brasileiras em quatro anos de governo.